quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Nota Pessoal 12 - As mãos

As mãos


Com mãos se faz a paz se faz a guerra.

Com mãos tudo se faz e se desfaz.

Com mãos se faz o poema – e são de terra.

Com mãos se faz a guerra – e são a paz.


Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.

Não são de pedras estas casas mas

de mãos. E estão no fruto e na palavra

as mãos que são o canto e são as armas.


E cravam-se no Tempo como farpas

as mãos que vês nas coisas transformadas.

Folhas que vão no vento: verdes harpas.


De mãos é cada flor cada cidade.

Ninguém pode vencer estas espadas:

nas tuas mãos começa a liberdade.


Manuel Alegre, O Canto e as Armas, 1967


Obrigado, Joio, pelo lindo poema que nasceu comentário e eu fiz post.
Não é de pedra a minha casa, mas de mãos.

4 comentários:

Anónimo disse...

Aqui fica outro, à desgarrada... para os voluntários e para os profissionais que por aí passaram:

«Era ele que erguia as casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia de sua grande missão:
Nao sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
(...)
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.
Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário.
(...)
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
- Exercer a profissão -
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia...»

Vinicius de Moraes, Operário em Construção, 1970.

RPL disse...

Ainda organizamos uma sessão de poesia lá na casa! :-)

Anónimo disse...

Se não der a tal sessão, ao menos estamos a entrar numa tertúlia bloguiana!!

Anónimo disse...

l'absense

prendre à la légère
un présent si grave
y a-t-il une autre maniére
pour ceux qui savent?

j'écoute le silence
j'entends des crimes
que font les croyances
moi je fais des rimes

l'envie de pleurer
un soir de silence
envie de gueuler
à travers l'absence