quarta-feira, 16 de maio de 2007

Nota Pessoal 02 - A 'limpeza'

A limpeza da vegetação na área de intervenção era mais que necessária mas não deixei de agonizar em antecipação à mesma.

Nos últimos anos, tinha-me limitado a ir libertando carvalhos das garras sufocadoras de trepadeiras, deixando o restante mais ou menos como estava. Agora o desafio era conseguir libertar o resto sem perder os carvalhos, um sobreiro e um pinheiro-bravo que cresciam naturalmente em redor da área de intervenção (alguns perigosamente perto).
Ao mesmo tempo, de um modo um pouco masoquista, fui também limpando e podando 5 carvalhos que cresciam dentro da ruína da casa e no logradouro mesmo em frente, carvalhos que inevitavelmente tinham de ser abatidos. Mas enquanto não chegava a altura queria que vivessem o mais possível, dessem o melhor habitat possível a aves, insectos, etc.
A aproximação do início das obras deixou-me por isso ansioso. Temia não conseguir que ficassem algumas das árvores em redor da casa e sabia que os carvalhos da casa tinham que ir.
O próprio dia foi difícil. Mas correu melhor do que eu podia querer. Os trabalhadores respeitaram os meus pedidos de "corte à volta desta", "atenção a esse carvalho!" com tolerância e simpatia. E o gosto em ver o terreno limpo também, em sentir que a coisa anda para a frente, contra-balançaram as perdas.
Note-se que tentei minimizar o impacto noutras zonas e semeei/incentivei carvalhos em outras áreas do terreno, sendo que no total agora existem muitos mais do que quando o comprei.
No fim, foi mais fácil do que pensei. É como antecipar a agulha da recolha de sangue a perfurar a pele e entrar na veia. Quase que caio para o lado e tremo que nem varas verdes. Mas, afinal, até não custa assim tanto (se @ analista tiver jeito para a coisa, como foi o caso na limpeza de vegetação!).

PS-Por muito reduzida que seja a área intervencionada, e por mais que se tente minimizar o impacto ele é real: um musaranho morto; vários musaranhos e uma cobra que se escondiam entre as rochas da ruína da casa tiveram que fugir; pelo menos um ninho subterrâneo de abelhão que suspeito ter sido perdido (com obreiras a tentar em vão encontrar a entrada de volta na muito alterada superfície do solo após a limpeza da selva). São alguns dos impactos visíveis, muitos mais haverá. Inevitáveis e aceites. Mas reais.

6 comentários:

Anónimo disse...

Como dizem os franceses : "on ne fait pas d'omelette sans casser des oeufs".
Parabéns a todos (arquitectos e cliente corajoso) pelo blog e, sobretudo, pelo projecto. Interessantissimo e carregado de esperança. Se dessa obra pudesse sair um processo construtivo repetivel e economico, seria uma grande vitoria para quem esta farto da inércia actual.
Força.

Jota disse...

Deus combinou (também) com os Arquitectos que: nem Ele faz projectos de arquitectura nem os Arquitectos se vão pôr a fazer milagres.
Que todos fiquem satisfeitos com o resultado final e que outros se atrevam a tentar!

Quico (Francisco Freire) disse...

Onde é que eu ouvi este provérbio aplicado com outros intervientes?

Jota disse...

Este "provérbio" é como o Robot:
"é pró menino e prá menina"

Anónimo disse...

Imagino que, para um defensor da natureza como tu, não deve ter sido nada fácil arrancar as árvores e afastar a bicharada (mas espero que alguma desta tenha ficado). Nada nesta vida se faz sem sacríficios e o que interessa é que tiveste o maior cuidado possível com a paisagem em redor do teu pequeno palacete.

Quico (Francisco Freire) disse...

intervientes!? qué isto? ai ai...e os coments que não se corrigem, bem: I N T E R V E N I E N T E S
Ninguém reparou ou não tiveram coragem de me chamar de bronco?