quarta-feira, 4 de abril de 2007

05 - ESTRUTURA DE MADEIRA EM EUCALIPTO

Ora aqui está uma decisão arriscada - optar pelo Eucalipto como estrutura das paredes e cobertura. Tomámo-la após vários meses de ponderação e pela seguinte ordem de razões: por ser uma espécie existente em Portugal e pela sua dureza dispensar a aplicação de produtos anti-fungicos/xilófagos.
A prerrogativa de ser uma madeira nacional esteve presente desde o início (afastámos as soluções de madeira tropical e, apesar de estudadas, o mesmo aconteceu com as madeiras nórdicas). Tudo apontava para o Pinho nacional portanto - uma solução relativamente corrente mas que a precaução aconselha o seu impregnamento com um produto imunizador em autoclave. E foi este o busílis da questão. Os produtos disponíveis em Portugal neste momento são apenas dois: o CCA (um preservativo tóxico agora apenas utilizado em madeira no exterior) e o Tanalith-E (um tratamento menos agressivo muito utilizado nos parques infantis por exemplo). O problema é que nenhum destes líquidos é aconselhado para madeiras aplicadas no interior. Para este fim, o tratamento actualmente considerado mais benigno (em países como os EUA, o Canadá, a França ou a Alemanha) é à base de Borato de Sódio. Ainda tentámos introduzir esta aplicação em Portugal mas... em vão.
A hipótese do Eucalipto (uma espécie com tradição em Portugal nas estruturas de telhado mas com conhecidas patologias de fendilhamento e empeno) foi sugerida pela Serração Madol de Ourém, uma das poucas serrações de madeira que se disponibiliza a cortar falcas ‘à medida do cliente’. Em stock têm eucaliptos idosos de cerne alargado que podem produzir as peças que necessitamos. Precauções foram tomadas quanto às técnicas de corte, secagem e aparelhamento para que a instabilidade própria do Eucalipto seja ‘controlada’ e assim se minimizem os riscos... mas que os há, há!

1 comentário:

RPL disse...

Usar madeira de eucalipto pareceu-me à primeira vista uma enorme contradição. Não é o eucalipto o grande satã do ambiente em Portugal?

Mas qual a alternativa? Não queria usar madeira de pinho tratada em auto-clave com químicos pesados. Primeiro porque tenho historial de alergia ao insecticida permitrina, segundo porque a ideia simplesmente não me agrada.

A madeira exótica, importada de longe, também não era alternativa. Eu quero incentivar a silvicultura e indústria da madeira em Portugal, mesmo que a actual use práticas, em geral, agressivas para o ambiente. E não quero incentivar o abate de árvores de florestas naturais noutros países nem pagar para gastar petróleo no seu transporte para Portugal.

Ainda tentei, usando as bases de informação de esquemas de certificação, tipo FSC, identificar produtores em Portugal, Espanha ou França que pudessem fornecer outras madeiras alternativas, mas sem grande sucesso.

Quando surgiu a possibilidade de usar eucalipto de grande porte a ideia não me desagradou tanto. Incentivar culturas de eucalipto com árvores mais antigas, valorizando o produto madeira para outros fins para além da usual pasta de papel pareceu-me uma boa ideia. E não ter de usar químicos, ou reduzir imenso o seu consumo, agrada-me enormemente.

E eu estou ciente dos riscos. E vou pagar mais por esta opção do que o pinho tratado, visto o eucalipto ser duro ao corte e um inferno para as serrações. Mas aceito.

Em último caso, se a madeira começar a ganhar bicho ou fungos daqui a uns anos o pior que pode acontecer é ter de a mudar. Mas a madeira é um recurso renovável e não me choca ter de reconstruir a estrutura da casa ao fim de algumas décadas.

Vamos ver o que sai.

Agrada-me ainda que o FSC esteja finalmente a chegar em força a Portugal (ver http://www.fscportugal.org/) havendo já alguns produtores portugueses que tiveram a iniciativa de certificar as suas produções e/ou produtos com agências a trabalhar em Espanha.

RPL